Para um festival que há 21 anos
entrega um troféu chamado Asa Branca a um destaque da música
paraibana, nada mais natural que dedicar inteiramente a edição de
2012 para homenagear o maior nome da música nordestina de todos os tempos: Luiz
Gonzaga. Este ano, o país inteiro comemora o centenário de nascimento de
Gonzagão, o Rei do Baião, que - à propósito – não era gigante apenas no
apelido carinhoso a ele dedicado. Em seu longo reinado, o velho “Lua”, como
também era conhecido, redimensionou o papel da sanfona na música brasileira,
“inventou” a nação nordestina no mapa cultural ao alcançar sucesso nacional
mesclando ritmos arcaicos com escalas modais litúrgicas oriundas das
ladainhas religiosas, criou um cancioneiro particular e encarnou
personagens sertanejos que habitam nosso imaginário até hoje, entronizou nas
classes média e alta gêneros populares como o forró, xote, baião, xaxado e a
marcação de quadrilha. Verdadeiro ícone de nossa brasilidade, Gonzaga merece
cada frase escrita ou produzida musicalmente em sua reverência. Que tal
conhecer um pouco mais desse gênio nordestino?
Aos oito anos, lá na fazenda
Caiçara, onde nasceu (Exu, PE), o pequeno Luiz começava a aparecer tocando
sanfona em festas e bailes dos arredores em troca de alguns mil réis. Iniciou
sua carreira de música com a sanfona de 8 baixos do pai, partiu para uma de 48,
outra de 80, e aprendeu a tocar, aos seus dezoito anos de idade, a sanfona de
120 baixos. E quanto mais ele tocava, mais contratos e convites de shows
choviam no seu colo. Se Mozart foi o menino-prodígio da música clássica, Luiz
Gonzaga rapidamente tornou-se sua encarnação no baião.
Ao longo dos anos, tocava em rádios
e mais rádios e gravava cada vez mais canções em parceria com Humberto Teixeira
e Zé Dantas. Apesar de ter tocado desde 1941 nos estúdios radiofônicos, demorou
alguns anos até que lhe permitissem cantar suas músicas. Junto com a cantoria,
inspirado no sanfoneiro catarinense Pedro Raimundo, que se vestia de gaúcho,
passou a se vestir de vaqueiro. Pouco depois, adotou o chapéu típico de
cangaceiro inspirado no seu grande ídolo Lampião.
Foi durante as décadas de 40 e 50
que se tornou o ícone mor da música popular brasileira, quando espalhou e
incluiu o nordestino no imaginário dos brasileiros. À medida que foi ganhando
anos de vida e experiência, os tempos foram mudando (passa a Segunda Guerra
Mundial e chega o regime militar), artistas internacionais estouravam nas
rádios e outros brasileiros se destacavam com suas letras de cunho político.
Mas o Rei do Baião jamais foi deixado de lado: em plena eferverscência cultural
da década de 1970, Gilberto Gil e Caetano Veloso bradavam Lua como influência e
referência, assim como Geraldo Vandré, Fagner e Raul Seixas. Era o “pai
impostor” de Dominguinhos e adotado de coração por Elba Ramalho.
Sua carreira foi composta de
sucessos e letras belíssimas: canções como Triste Partida, A Vida do Viajante e
Asa Branca (que foi regravada em diversos idiomas, até mesmo japonês) jamais
serão esquecidas. Nunca parou de escrever e tocar; ao final de sua carreira,
foram 45 álbuns gravados, entre CDs e vinis, feitos ao vivo ou em estúdio. Seu filho,
Gonzaguinha, o acompanhou por grande parte de sua carreira. Alçado ao status de
semi-deus da cultura nordestina, não por acaso, em 1980, cantou para o Papa!
Luiz Gonzaga faleceu em 1989, mas
seu legado até hoje continua firme e forte. Um século depois, sabemos que
Gonzagão não nos deixou. Ele anda por todos os cantos do país, nas festas
juninas, no manguebeat, no frevo, na música brasileira; nos livros, nas novelas
e filmes, no centro do caldeirão da cultura brasileira.
http://www.forrofestparaiba.com.br
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